terça-feira, 18 de setembro de 2012

A Maldição da Lua (Resenhas)


                                 Por Thiago Tavares

    A Maldição da Lua – obra de estreia de Alexander Zimmer – se desdobra pelas terras do sertão, num vilarejo simples e demasiadamente distante do progresso industrial. Cirino do Araçá, assim chamado pelo araçazeiro de seu quintal, é quem nos guia através destas bandas pueris onde praticamente todo homem vive de pouco ou quase nada. Em seu nome de registro carrega apenas o sobrenome materno: Cirino dos Santos. Desde menino guarda o desejo de saber mais a respeito do sujeito que, após a noite de núpcias, desaparecerá no mundo sem deixar rastros; todavia, as informações cedidas pela mãe – carregadas de respeito e veneração – sempre foram demasiadamente parcas. Cresceu então levando consigo um vazio que somente conhecem aqueles que não tiveram a figura paterna ao lado. 

    A vida simplória do jovem protagonista de 26 anos se resume, ou pelo menos se resumia em grana curta, despensa escassa e barriga vazia. Cirino do Araçá mal tinha o que comer e até já guardava certa intimidade com a fome quando ficou sabendo pelo Zé, compadre de longa data, a respeito de um serviço recusado por muitos na fazenda do coronel Terêncio, homem duro, poderoso, de poucas palavras com seus empregados e envolto de lendas a seu respeito, inclusive até mesmo de haver enfrentado o próprio “demônio” e o aprisionado numa garrafa. Mesmo ciente dos boatos sobre uma criatura enviada diretamente do inferno a rondar as terras de Terêncio em busca de vingança, Cirino não recusa o trabalho, afinal, precisa de dinheiro para se manter e além disso, também não é homem de se deixar levar por crendices do povo. Diferentemente da maioria, Cirino tinha alguma instrução – herança deixada pela mãe, professora primária, com quem aprendera tudo o que sabia – e por isso não costumava se deixar levar por qualquer história saída da boca daquela gente dominada por supertições. Não era de debochar das crendices e tampouco duvidar das coisas do além, contudo, era homem de razão aflorada e costumava refletir sobre as coisas que lhe chegavam aos ouvidos. Sem titubear, então ele aceita realizar o serviço simples que lhe permitirá forrar o estômago já acostumado a viver de migalhas. Uma decisão que acaba por aproximá-lo do amor e ao mesmo tempo do perigo de uma maldição.

    Cirino trabalha com presteza, mas o serviço é demorado e por isso acaba tendo de regressar outros dias à bendita fazenda onde conhece Luciana, a jovem caçula do coronel, por quem se encanta logo a primeira vista, porém, também terrível fazenda onde, por experiência própria que quase lhe custara a própria vida, toma conhecimento de que a existência do lobisomem é verídica. Rapidamente, a notícia do rapaz que conseguira escapar das garras do “tinhoso” alcança o vilarejo e logo Cirino fica afamado como o homem que enfrentou um enviado do inferno.

     Em meio aos boatos que percorrem de boca a boca, a história vai recebendo incontáveis “acessórios”, alguns deles fazendo o simples e jovem protagonista parecer um verdadeiro guerreiro. Cirino acha graça da criatividade daquela gente e inicialmente nem se importa com todas aquelas invencionices, pois Luciana já lhe toma boa parte dos pensamentos. Vê-se apaixonado e para sua surpresa, um sentimento correspondido na mesma intensidade, no entanto, ele se esforça para não alimentar falsas esperanças numa relação, a seu ver, impossível, pois era homem humilde e Luzinha filha do sujeito mais poderoso do vilarejo. Seu coração, no entanto, se recusa a obedecê-lo, mas precisa se render a uma trégua, pois Cirino acaba tendo problemas maiores com o lobisomem que, sedento de sangue, torna a procurá-lo.

    Novamente o rapaz escapa por um triz. Temendo um novo ataque e seguindo o conselho do amigo Zé, acaba indo até a casa de D. Cambinda, uma senhora rezadeira que lhe permite comunicação com entidades espirituais que estão a protegê-lo. Com o auxílio da espiritualidade, Cirino então ganha força extra para enfrentar o mal, todavia, algumas surpresas a ele estão reservadas. Algumas capazes de submetê-lo a um profundo misto de tristeza e revolta, como, por exemplo, a morte de um pequeno amigo pelas garras da abominável criatura meio cão, meio homem; outras capazes surpreender verdadeiramente não somente Cirino, mas também os leitores.  

    A Maldição da Lua é um livro de leitura agradável, carregado de diálogos com o típico linguajar interiorano do sertão. Dotada de um vocabulário simples, a trama é bem amarrada, permitindo assim uma leitura rápida e envolvente. A obra certamente é uma ótima opção aos que apreciam a linha da fantasia, permitindo momentos de aventura, suspense além é claro de um bom romance. 


O Autor


    Massoterapeuta, ator, diretor, cantor, poeta, webdesigner, blogueiro e roteirista, Alexander Zimmer estreia como escritor com o livro “A Maldição da Lua”. Optando pela temática folclórica e fantasia, busca resgatar valores e lendas regionais de um Brasil que parece estar sendo peremptoriamente esquecido e apagado da cultura popular nas grandes cidades.  




 Editora: Faces
Autor: Alexander Zimmer
ISBN: 978-85-63609-26-7
Título: A Maldição da Lua
Ano: 2012
Páginas: 210

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